quarta-feira, 28 de maio de 2008

Versos sofridos para um açude triste

A minha inspiração
Que rogo nesse instante
Para falar da jusante
Dum açude do sertão
Traz algo interessante
Também sobre a montante
E até de aluvião.

A vida do interior,
De plantação e de gado,
De rebanhos, de roçado.
Para mim muito mudou;
Agora é tudo atrelado
Ao moderno exagerado
Que tudo contaminou.

Homens de sabedoria
Não se cansam de dizer
Que é preciso entender
Coisas de economia;
Pois temos mesmo que ver
aonde foi se meter
o povo que antes havia.

O povo que antigamente
Era da zona rural
Mudou-se prá capital
Ou cidades diferentes;
Agora é fato real
Em nosso campo local
Temos muito menos gente.

Mas quem no campo ficou,
Coisa de trinta por cento,
Inda tira seu sustento
Das coisas do interior;
De carro ou de jumento,
Abrigado ou no relento,
A tarefa continuou.

Aqui, da minha cidade,
Fico pensando na roça:
Na casa e na palhoça,
Salatiel, Piedade,
Vez por outra alvoroça,
Corro sem medo e sem bossa
Prá ver a calamidade.

Foi assim um certo dia,
No primeiro de abril,
Que a barragem ruiu,
Levando tudo que havia;
O povo todo sentiu,
Pois para todo o Brasil
A informação seguia.

Como o tempo é engraçado,
Pode ser até cruel,
Outra mudança no Céu,
Logo ali do outro lado;
Anos depois o papel
Que já falava de mel
Era de novo malvado.

Naquela linda fazenda
Que ficava bem no alto,
Onde a onça dava salto,
Se eu mentir Deus me defenda,
Logo ao lado do asfalto,
Segundo outro arauto,
Mandava nova legenda.

Nem parece que faz anos,
Sentava lá no terraço,
Chovia pelo regaço,
Tinha até uns bichanos;
E nem apressava o passo
Naquele belo espaço
De modo interiorano.

Mas a vida continua
E o tempo se passou;
Longe do interior,
Vivendo as coisas da rua,
Ninguém a mim informou
Um sentimento de dor
Que matou até perua.

Eu vim saber por acaso,
Pois tive de viajar
E pela estrada passar,
Foi quando vi algo raso;
Nada mais vai arrasar
A gente lá do lugar
Do que aquele triste caso.

O açude tão bonito
Cheio de água limpinha
Perdeu a água que tinha,
Quase que não acredito;
Pois eu vi pela tardinha
Aquela terra sequinha
E não segurei meu grito.

Oh! Deus, que imagem triste!
Eu nunca ia pensar
De um dia enxergar,
Mas agora sei que existe;
A terra desse lugar
Agora poder pegar
Por quê não me advertiste?

Açude seco, terreno,
Só mesmo quem te conhece
Pensa em fazer uma prece
Prá que o sol fique ameno;
E a chuva que abastece
Ver se logo em ti desce
Este é o melhor aceno.

Aquele cena chocante
Ficou em meu pensamento,
Não esqueço o momento
Em que olhei delirante
Um homem com um jumento
Passar com seu passo lento
Açude adentro, adiante.

Ali não me conformei:
Fui ver o povo da terra
Onde o bode tanto berra
E de Rosa indaguei;
Ela disse - Nem na guerra
Tanta coisa se emperra
E passa o que eu passei.

Sem água nem prá beber
Ela conseguiu passar
Trazendo num caçuá
Pouco para se manter;
E me chamou prá olhar
Coisa de arrepiar
Uma vida de sofrer.

Como dizia um Ramos,
Que nordestino é forte,
Acreditamos na sorte
E da seca nos salvamos;
Sem ir pro sul nem pro norte
Fazemos até esporte
E hoje nos destacamos.

Paro com essas lembranças,
Mesmo que sejam recentes,
Pois agora em minha mente
Só quero ter esperanças;
De que esse povo decente
Tenha um tempo diferente
De prazer e de bonança.

Autor: Walter Medeiros (Natal/RN) - walterm.nat@terra.com.br

terça-feira, 27 de maio de 2008

+ corda

Comprei mais corda, estou de volta... rs