sábado, 15 de setembro de 2007

O POETA DOS OPRIMIDOS

Bertold Brecht, dramaturgo,
Poeta de grande valor
Que enfureceu o verdugo
Com o verso libertador,
Dedicou toda sua vida
À uma causa aguerrida
Em prol do trabalhador.

Levou a insatisfação
Onde havia indiferença,
Levantou a insurreição
Onde antes era descrença.
Foi um revolucionário
Que despertou no operário
A sua injusta sentença.

Nascido na Baviera
Há mais de um século atrás,
Vindo de um berço austero,
Inconseqüente, voraz,
Bertold Brecht foi instado
A seguir do mesmo lado
Conservador dos seus pais.

Era o seu pai um burguês
De forte convicção,
Na fábrica foi um severo
Gerente de produção;
No lar um vagão sem trilho
Forçando levar seu filho
Para a mesma formação.

Puseram-lhe uma gravata,
Um colete, um palitó,
Pintaram-lhe de plutocrata,
Mas, tudo isso tão-só,
Determinado, prolixo,
Levou a jogar no lixo
Todo esse status sem dó.

Todas as ordens de práxis
Para oprimir, explorar,
Foram elas relegadas
Pelo poeta ao enxergar
Que a defesa de sua clava
Firme, se identificava
Com o clamor popular.

Foi assim que Bertold Brecht
Desconhecendo o perigo,
Ao se impor ante tiranos
Descobriu um novo abrigo,
E começou com seu verso,
Por todo imenso universo
A incomodar o inimigo.

Aos quinze anos de idade
Em versos, por excelência,
Patrióticos, já expunha
Da ideologia a tendência
De ser, como humanitário,
Um agente libertário
De denotada incidência.

Tendo vinte e quatro anos
Chega a ganhar, genial,
Em "OS TAMBORES DA NOITE",
Grande peça teatral
O PRÊMIO KLEIST, imerso,
Já selando com sucesso
Bom nível intelectual.

Todos escritos de Brecht,
Romance, peça, poesia,
Artigos, crônicas e críticas
E tudo o mais que fazia,
No mesmo procedimento,
Expressavam o sentimento
De justiça e rebeldia.

No ano de trinta e três
À censura viu-se envolto
Tendo ele que deixar
Da sua pátria, seu porto
Por ter da verve que versa
Escrito a "ofensiva" peça
"A LENDA DO SOLDADO MORTO".

Foi a peça considerada
Um acinte pelos sensores,
Tendo Brecht que fugir,
Abandonar seus labores
Para não ser condenado
Aos campos e assassinado
Pelos cruéis transgressores.

Escapando do nazismo
Foi aos Estados Unidos,
Mas, ali o capitalismo
Deixou-lhe desiludido...
Julgado, sem prova em vista,
Como "espião comunista"
É, injustamente, punido.

Passou por vários países
Tendo sempre por missão
Educar o povo humilde
Pisado sem compaixão...
E alertar o "ignorante
Político" para um instante
Sensato de reflexão.

Condenou a classe média
Pela sua insanidade
E os literatos avessos
Às lutas de liberdade...
Outros letrados-alteza
"Que abusaram da beleza
E esconderam a fealdade."

O poeta ressentindo-se
Ante o vil dominador
De um poder corrompido,
Proclamou com dessabor
Em desprezível oratória:
"O pior é que a história
Quem escreve é o vencedor.

Mais a frente murmurou
Entre as suas reflexões:
"Dos poderosos da terra
Conhecemos as canções.
Eles sobem, depois descem,
Clareiam, mas, escurecem
Como as constelações.

Que nós os alimentamos
Já não é grande surpresa...
Que eles subam ou caiam
Quem é que paga a despesa?"
O povo é sempre a corrente:
Move a roda, eternamente,
É quem forma a correnteza.

Daí que ele se entregava
À sua luta incontida,
Transformando cada palco
Numa trincheira aguerrida.
Por nunca calar a voz
Quis o seu vil algoz
Por um fim à sua vida.

Chegou a uma situação
De reação aos seus atos
Qu' ele em uma reflexão,
Sereno, afirmou sensato,
Relembrando as cicatrizes,
Que trocou mais de países
Do que mesmo de sapato.

Foi Brecht um socialista
Que fez a condenação
Do modo capitalista
Dos meios de produção
Onde a classe que produz
Tem por paga a rude cruz
Da miséria e da opressão.

Por isso, não vacilava
Na sua grande missão
De unir o trabalhador,
Fazer a conscientização
Para romper, relutante,
Ao jugo vil, humilhante,
Da mais atroz opressão.

Não foi como o traidor
Que finge ódio ao burguês,
Se junta aos trabalhadores
E após, com desfaçatez,
Imune a quaisquer conflitos,
Rasga todos seus escritos
E esquece tudo o que fez.

Brecht não tergiversou
Na sua ideologia...
Com firmeza continuou
Em prol do que defendia.
Por atos em todo embate
Sempre externou este vate
Lealdade e rebeldia.

Sofreu por onde passou,
Mas, se manteve coerente.
Seu verbo ao trabalhador
Da lição se fez semente.
O seu verso planetário,
Por educar o operário,
Ainda incomoda gente.

O caminho inimaginário
Sem lar, sem pátria, sem hino,
Guarnecido por sicário,
Foi ditando o seu destino.
Todo um clamor operário
Fazia-o revolucionário
E o mais audaz peregrino.

Estava sempre apressado
Para chegar no "sei onde",
Em algum lugar olvidado
Onde a justiça se esconde,.
Ou indagando do abismo
Onde, junto, o conformismo
Com a miséria se confunde.

Falou Brecht, persuasivo,
Aos que esperam sem lutar:
"Querem que tigres convidem
Pra seus dentes arrancar?...
Ou que lobos violentos
Lhes ofereçam alimentos
Ao invés de os devorar?

Por isso, nos seus poemas
Ou nas peças teatrais,
Conscientizar, como lema,
Era a luz mais eficaz
A clarear um sistema
De extorsão, de problema
Para as classes sociais.

Por vezes se contentava
Ante a injustiça crescente
Quando alguém manifestava
Seu espírito independente
E passava a conclamar
Todo o seu povo a lutar
Por um mundo diferente.

Ante os avanços saudou
A luta da humanidade
Por justiça social,
Terra, pão e liberdade,
Por ações socialistas
Que vêm dos idealistas
Dentro da sociedade.

Chegou a lançar um método
De laurear lutadores,
Aquele que luta um dia
E que tem os seus valores,
Outros que lutam, humanos,
Dias a mais ou mais anos
E que são bons ou melhores.

Porém, a láurea maior,
De justeza indiscutível,
Vai para "aquele que luta
A vida toda"-que incrível!...
Para este, com razão,
É dada com a inscrição:
"Você é imprescindível!!!"

Hoje há crime e injustiça,
Porém, há muita revolta,
Bandeira nas praças iça,
Lições há de porta em porta,
E quando um grito maior
Clamar um mundo melhor
Há Brecht decerto em volta.

Autor: Medeiros Braga

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